in , ,

Gabeu e a Era Rock Bravo: entre o sertanejo queer e o grito de liberdade de quem nunca coube em rótulos

Reprodução/Divulgação

Filho de Solimões, pioneiro do “pocnejo” e artista que fez do sertanejo um território onde também cabem LGBTs, couro, latex e a não-binariedade, Gabeu está de volta com um novo projeto: Rock Bravo, um EP que mistura moda de viola com guitarras pesadas e estética faroeste, sem abrir mão da emoção que sempre marcou suas criações. Em entrevista exclusiva ao Nation POP, o cantor falou sobre suas raízes, identidade, evolução vocal e os desafios de existir — e resistir — dentro de um gênero tradicionalmente conservador.

Rock Bravo é um mergulho em músicas caipiras antigas, mas com uma roupagem mais agressiva. Quero transformar essas canções trágicas em algo dançante, intenso, meio bang bang,” resume. A primeira faixa lançada foi “Minas Gerais”, regravação de Tião Carreiro & Pardinho, que Gabeu adaptou para um country dançante, embalado por chapéu de palha e look de látex.

De Franca para o mundo: o sertanejo de quem é “do meio”

Apesar de ter nascido em Franca, interior de São Paulo, Gabeu cresceu atravessando fronteiras entre seu estado natal e o sul de Minas Gerais, onde sua família paterna vive. “Sempre fui muito a Cássia, cidade da minha avó. Tenho lembranças muito fortes dessa vivência mineira”, conta. Essa relação afetiva o inspirou a regravar a música “Minas Gerais”, em homenagem ao pai e às suas raízes.

O artista também destacou como sua conexão com o sertanejo vai além da sonoridade: é uma herança emocional, familiar e cultural — que ele ressignificou a partir de suas vivências como homem queer e, mais recentemente, como pessoa não binária.

“Eu não queria me encaixar num padrão do sertanejo. Se fosse para fazer música e me esconder, ia me frustrar. Já que sou assim, é isso que vai para a minha arte.”

Pocnejo, queernejo e o rastro deixado na música brasileira

Gabeu fez história em 2019 com o lançamento de Amor Rural, faixa que inaugurou oficialmente o “pocnejo” — termo usado para descrever o sertanejo LGBTQIAPN+. Desde então, lançou dois álbuns, diversos singles, foi indicado a prêmios e viu sua estética se tornar referência.

Para ele, o maior reconhecimento é ver a comunidade se enxergando em sua arte:

“Faltava alguém no sertanejo em quem eu pudesse me reconhecer. E hoje tem gente que olha pra mim e diz: ‘sou do interior, sou caipira e me vejo no que você faz’.”

Rock Bravo: um bandido no bang bang do sertanejo

O título do novo projeto tem dois significados: faz alusão à mistura de rock com sertanejo, mas também homenageia um personagem da dupla Léo Canhoto & Robertinho — o pistoleiro Roque Bravo, que aterrorizava cidades do Velho Oeste musical.

“Me identifico com esse personagem que causa estranhamento. Eu também chego no sertanejo como alguém que desestrutura o esperado.”

Visualmente, o projeto flerta com couro, all black, maquiagem e elementos não convencionais dentro do gênero. Gabeu não apenas canta diferente — ele é, em essência, uma provocação estética e lírica às fronteiras do que o sertanejo supostamente “deveria ser”.

Voz, evolução e segundas harmonias

Durante a conversa, Gabeu revelou inseguranças que enfrentou com sua voz no início da carreira e como o trabalho com a preparadora vocal Mônica Guedes foi crucial em sua evolução técnica.

“Se você ouvir Amor Rural e comparar com Minas Gerais, dá para notar como minha impostação mudou. Hoje uso o nasal quando quero, não porque é o único jeito que sei cantar.”

Fã assumido de segundas vozes, ele credita parte da habilidade ao pai, Solimões (da dupla Rionegro & Solimões), que sempre foi segunda voz.

“Ouvir meu pai cantar todos os dias me moldou. É como se fizesse parte de mim.”

Gênero, identidade e a arte como processo

Ao falar sobre identidade, Gabeu se abriu sobre a descoberta da não-binariedade, refletindo sobre como isso se entrelaça com sua expressão artística:

“Nunca me identifiquei 100% com o que ensinaram que é ser homem, mas também não me vejo como mulher. Me sinto no limbo. E, de certa forma, minha arte é sobre isso também.”

Essa fluidez aparece nos figurinos, nas escolhas visuais e até nas letras. Ele não se impõe limites:

“Hoje me identifico como uma pessoa não binária, mas também acredito que tudo é fluido. Pode ser que eu descubra novas coisas sobre mim no futuro. E tá tudo bem.”

Gabeu segue lançando as faixas do EP Rock Bravo ao longo de 2025. Siga o artista nas redes sociais e acompanhe os lançamentos no Spotify, Deezer e Apple Music. E continue com o Nation POP para mais conteúdos que celebram a diversidade, a música brasileira e quem quebra barreiras com autenticidade.

Denunciar post

O que você achou do conteúdo?

Avatar

Escrito por Guimas

Marina na Voz: da psicologia ao pop R&B, a nova voz do empoderamento feminino