O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta Clarissa Tossin: ponto sem retorno, exposição que reúne mais de 40 obras das últimas duas décadas de produção da artista brasileira. Mais do que retratar a crise climática, Clarissa Tossin (Porto Alegre, 1973) incorpora em seus trabalhos resíduos, objetos e materiais que se tornam testemunhos do colapso ambiental. Em cartaz de 10 de outubro a 1 de fevereiro de 2026, a mostra é a primeira individual da artista em um museu brasileiro.
Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, a exposição foi concebida como uma grande instalação imersiva. “A sensação é a de que o museu alagou e montamos a mostra com aquilo que sobrou para expor. É como se o público estivesse visitando um museu pós-apocalíptico. Clarissa é uma artista contemporânea, conceitual. Tem muitas obras na escala real, um para um, resultando em uma mostra com uma dimensão bastante imersiva”, afirma Guilherme Giufrida.
A mostra reúne reflexões sobre catástrofes ambientais que atingiram Porto Alegre, local de nascimento da artista, e Los Angeles, nos Estados Unidos, cidade onde ela mora atualmente. Comissionada pelo MASP, a obra Volume Morto (2025) foi feita com tinta produzida com terra de três localidades que sofreram com as enchentes no Rio Grande do Sul: Cidade Baixa, Sarandi e Eldorado do Sul. A intervenção, pensada para as paredes da galeria expositiva, recria as marcas horizontais de lama que ficaram estampadas nas construções após as inundações. Além de relembrar o alagamento de enormes proporções que tomou conta do estado gaúcho em maio de 2024 — mesmo período em que foi iniciada a pesquisa para esta exposição —, a instalação também remete aos rastros deixados em Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019.
Já a obra de Clarissa Tossin intitulada You Gotta Make Your Own Worlds [É preciso criar seus próprios mundos] (2019) foi destruída pelos incêndios que devastaram a Califórnia em janeiro deste ano. A obra pertencia a um casal que morava há 33 anos na mesma residência e acabou perdendo todos os bens nas chamas. O nome do trabalho de Tossin é retirado de um trecho do livro A parábola do semeador, de Octavia E. Butler, publicado em 1993. Na trama distópica que se passa em 2024, os Estados Unidos são governados por um presidente autoritário, e queimadas atingem a Califórnia, levando refugiados climáticos a migrarem. No lugar da obra, a exposição apresenta uma marca na parede do tamanho original da peça e uma legenda explicativa, como um texto de um obituário daquele objeto.
Tossin também discute as causas e os efeitos do aquecimento global, traçando conexões entre sinais de sofrimento dos corpos humanos e não humanos. Essa preocupação é vista na obra monumental Death by Heat Wave (Acer pseudoplatanus, Mulhouse Forest) [Morte por onda de calor (Acer pseudoplatanus, Floresta de Mulhouse)] (2021), em que galhos e troncos de uma árvore que morreu por conta de uma onda de calor na Floresta de Mulhouse, na França, se espalham no chão da mostra em meio a outras obras de arte.
“São obras fantasmagóricas, mortas-vivas, resquícios de paisagens pós-humanas. Os trabalhos em exibição criam mapas, protótipos, rastros de uma aparição humana momentânea e efêmera e do que foi possível reter dessa existência. A artista está produzindo a partir desse mundo em que a materialidade, o lixo, os resquícios humanos vão deixar alguns rastros daquilo que aconteceu com o mundo. É quase como se ela estivesse olhando para aquilo que no futuro arqueólogos vão observar: fósseis do futuro”, diz Giufrida.
Outra vertente da pesquisa de Tossin reflete sobre como a cartografia foi fundamental para a colonização das Américas, e como as imagens de satélite tornaram possível a busca por água e minerais em outros planetas. São paralelos entre os processos históricos de exploração territorial e as atuais ambições de colonização espacial. Sobrepostos a mapas coloniais ou entrelaçados a imagens de telescópio, caixas e envelopes da gigante do e-commerce Amazon também agregam uma camada de reflexão sobre o consumo de massa.
SOBRE A ARTISTA
Clarissa Tossin (Porto Alegre, 1973) combina escultura, instalação, tapeçaria, vídeo e performance, unindo crítica geopolítica, ficção especulativa e práticas artesanais a fim de colocar em diálogo a memória, o consumo, os efeitos do colonialismo, a crise ambiental, o imaginário da exploração espacial e o futuro geológico. Entre as exposições individuais, Tossin já esteve no Frye Art Museum, em Seattle, nos Estados Unidos, Museum of Contemporary Art, em Denver, nos Estados Unidos, La Kunsthalle Mulhouse, na França, e Blanton Museum of Art, em Austin, nos Estados Unidos. Participou de exposições coletivas como a Whitney Biennial 2024, em Nova York, nos Estados Unidos, e a 12ª Bienal de Gwangju, na Coreia do Sul.
Clarissa Tossin: ponto sem retorno integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da ecologia. A programação do ano também inclui mostras de Claude Monet, Frans Krajcberg, Abel Rodríguez, Hulda Guzmán, Minerva Cuevas e Mulheres Atingidas por Barragens.
ACESSIBILIDADE
Todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em Libras ou descritivas, além de textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil — com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos, disponíveis no site e no canal do YouTube do museu, podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados em geral.
CATÁLOGO
Será publicado um catálogo bilíngue, em inglês e português, reunindo imagens e textos sobre a exposição. O livro tem organização editorial de Adriano Pedrosa e Guilherme Giufrida. O catálogo tem ensaio de Giufrida, entrevista de Pedrosa com a artista, e textos das autoras convidadas Elena Shtromberg, Jennifer L. Roberts e Marcela Guerrero.
LOJA MASP
Em diálogo com a exposição, a Loja MASP apresenta produtos especiais de Clarissa Tossin: ponto sem retorno, que incluem bolsas, postais magnéticos, cartazes, marca-páginas, garrafas, camisetas, cadernetas e blocos de notas.
REALIZAÇÃO
Clarissa Tossin: ponto sem retorno é realizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
SERVIÇO
Clarissa Tossin: ponto sem retorno
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP
10.10.25 — 1.2.26
Edifício Lina Bo Bardi
1º andar
MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo, SP 01310-200
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta e quinta das 10h às 18h
(entrada até as 17h); sexta das 10h às 21h (entrada gratuita das 18h às 20h30); sábado e
domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 75 (entrada); R$ 37 (meia-entrada)
🤩 Gostou do conteúdo? Acompanhe o Nation POP em todos os canais e não perca nenhuma novidade!
Facebook | Instagram | TikTok | YouTube
📲 Acompanhe também nosso canal exclusivo no Instagram e siga o Nation POP no Google News.