Segundo estimativas da Unicef, quase 16 milhões de jovens na américa latina entre 10 e 20 anos sofrem com algum transtorno mental. Os mais presentes: ansiedade e depressão. Entre eles, Pedro Goifman, jovem astro da HBOMax que recentemente protagonizou a série de sucesso “B.A.: O Futuro Está Morto”. Pedro, hoje com 20 anos, revela já sentir os sintomas há mais tempo, mas ter sido de fato diagnosticado aos 14 anos. Hoje o ator segue em tratamento e destaca inclusive seu personagem como parte do processo de cura.
“Olhando para trás, consigo ver que a doença me acompanhava há algum tempo. É muito difícil perceber que precisamos de ajuda. Sempre tive conversas abertas com os meus pais, mas também escondia meus sentimentos com um sorriso. Aos 14 anos, passei por uma situação limite e percebi que se não pedisse ajuda, poderia morrer”.
O problema é crescente
Infelizmente, os dados estatísticos não tem regredido quando o assunto é ansiedade e depressão. Cada vez mais jovens são diagnosticados diariamente. Na opinião de Pedro, uma parte do problema se deve a desigualdade social e as redes sociais.
“Não sou especialista, então não é como se a minha opinião valesse nesse ponto. O preconceito, o ódio e a desinformação existem e são amplificados nas redes, então imagino que as mídias sociais tenham um papel muito forte nisso. Os influenciadores fingem ter uma vida perfeita e estão sempre felizes e bem-sucedidos, criam um sentimento de comparação que pode ser muito danoso à saúde mental”.
Já sobre a desigualdade, Goifman destaca um estudo da OXFAM que indica que nos últimos 4 anos, os 5 bilionários mais ricos do mundo mais do que dobraram suas fortunas, enquanto 60% da população ficou ainda mais pobre. “A desigualdade social certamente também tem um papel importante no aumento de transtornos mentais”
Não é “normal” estar depressivo
Com tantos pré-julgamentos, muitos pacientes depressivos tendem a achar que esse é um estado normal ou consequência de fatos cotidianos. Pedro afirma que um dos seus maiores alívios ao pedir ajuda foi justamente a consciência de que o problema poderia ser tratado e que não era um traço de sua personalidade.
“Certamente esperei demais para falar sobre isso. Se você tem alguma suspeita, algo que te faça pensar que não está bem, procure ajuda. Atualmente existem serviços tanto no SUS quanto em ONGs que oferecem suporte de maneira gratuita”, recomenda. “Assim que recebi o diagnóstico, fiquei aliviado por saber que era uma doença e que aquele não era o meu ‘normal’”.
O SUS oferece a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), instituída para cuidar das demandas relacionadas à saúde mental. Além disso, existem ONGs e associações civis filantrópicas como o Centro de Valorização a Vida, que oferece atendimento gratuito 24h pelo telefone 188, chat, e-mail e pessoalmente.
“Procure ajuda profissional. E se já estiver em tratamento, minha dica é: aproveite a vida, porque ela também pode ser boa. Caminhe no parque, saia com amigos, vá ao cinema ou ao teatro. É difícil, mas muitas vezes vale a pena”.
A atuação e o processo de cura
Cercado de uma rede de apoio, Pedro destaca este suporte como primordial em sua estabilidade psicológica. “Estou em uma posição privilegiada. Meus pais, amigos e namorada compõem uma rede afetiva muito importante. Porém, sempre conto com a ajuda profissional; tenho um terapeuta e um psiquiatra”. Tendo passado pelo desmame das medicações, o ator não descarta a possibilidade de voltar a ser medicado, se necessário.
Ainda no período de lançamento de “B.A.”, onde interpreta o protagonista Tomás, o ator afirmou que o papel fez parte de um importante processo de cura. “Entender os problemas que o Tomás enfrentava foi também entender os meus e interpretá-lo foi algo que me ajudou muito. (SPOILER) O personagem tenta tirar a própria vida e essa foi uma das cenas mais difíceis, me ensinou muito”.
Entre as maiores dificuldades, Pedro conta que vem tentando não ser um personagem quando não está em frente às câmeras. “Sempre fiz isso na minha vida social e a exposição aumenta a necessidade de agradar. Essa é a maior cilada que enfrento. Se fundir com esse personagem é um risco real”.